A Federação Nacional dos
Policiais Penais Federais, que congrega o sindicato de servidores dos cinco
presídios federais do País, divulgou nota neste sábado, 17, para comentar a
fuga de dois detentos da unidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, nesta semana.
A categoria disse acreditar que não houve planejamento prévio por parte da
dupla, e “sim uma oportunidade que foi aproveitada e obtiveram êxito”.
A
manifestação tenta rechaçar qualquer suspeita quanto a eventuais favorecimentos
ilícitos aos servidores, o que poderia ter auxiliado direta ou indiretamente na
fuga. “É muito cedo para chegar a essa conclusão”, diz a nota assinada por
Gentil Nei Espírito Santo da Silva, presidente da federação, que classificou
comentários dessa natureza como “irresponsáveis”.
“Findada
as apurações, se tiver algum policial penal federal envolvido, cortaremos a
própria carne sem qualquer corporativismo, pois o nosso maior orgulho sempre
foram os números estatísticos de zero fuga, zero rebelião, zero celular”,
reforça Silva.
O
ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, viajará para
Mossoró, no Rio Grande do Norte, neste domingo, 18, para acompanhar as buscas
dos dois detentos que fugiram.
A
ida do chefe da pasta para o município potiguar foi confirmada pela própria
secretaria e acontece após a informação de que a dupla de fugitivos, Deibson
Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça, fez uma família de refém entre a
noite da última sexta e a madrugada deste sábado.
Para
rebater a tese de que poderia ter havido favorecimento, Silva exemplifica:
“Considerando que existem presos de altíssimo poder econômico cumprindo pena
neste momento na mesma penitenciária federal, a exemplo de Luís Fernando da
Costa (Fernandinho Beira-Mar), que já está há 17 anos no Sistema Penitenciário
Federal, de que forma esses presos teriam conseguido cooptar policiais penais
federais com tanta facilidade, uma vez que chegaram em setembro de 2023 na
unidade e existem presos mais expressivos que há 17 esperam uma chance de
fuga?”
Segundo
Silva, “sempre houve problemas estruturais e à medida que chegavam ao
conhecimento das entidades de classe, eram repassados às respectivas
autoridades”. Um dos problemas apontados é a ausência de muralhas, objeto de
demanda da federação em 2019. “Entretanto, apenas uma, a de Brasília, foi
entregue até o presente momento”, diz ele.
O
presidente do grupo chamou atenção para o alto índice de salinidade notado em
Mossoró, o que poderia acelerar a degradação de estruturas. “Não se descarta a
hipótese do vergalhão que o foragido utilizou inicialmente para arrancar a
luminária seja da própria estrutura da cela que talvez estivesse exposto e não
foi observado, porém é só uma hipótese, vamos aguardar as investigações.”
As
entidades sindicais, ressalta a nota, esperam que tudo seja apurado e, “havendo
responsáveis, que respondam pelas suas ações e/ou omissões na forma da lei”.
“Entretanto não pode ser ignorado o brilhante histórico desses profissionais”.
O
Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou na quinta-feira, 15, que
cerca de 300 policiais trabalham nas buscas pelos fugitivos, entre agentes da
Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e das polícias locais.
Estão sendo usados desde drones a helicópteros na tentativa de encontrar os
dois criminosos. Até o momento, porém, nenhum deles foi recapturado.
Os
policiais trabalham com a hipótese de que os foragidos estejam num perímetro de
15 quilômetros ao redor da Penitenciária Federal de Mossoró. Câmeras externas
não registraram a chegada de veículos para resgatar os prisioneiros e também
não foram identificados furtos ou roubos de veículos na região, o que reforça a
hipótese de que Deibson e Rogério fugiram a pé.
No
momento, duas investigações estão em curso, informa a pasta. Uma, de caráter
administrativo e liderada por André Garcia, do Senappen, apura como aconteceu a
fuga do presídio e eventuais responsabilidades pelo ocorrido, que pode levar a
um processo administrativo; o outro inquérito investiga as responsabilidades de
natureza criminal de pessoas que podem ter facilitado a fuga dos detentos.
(Colaborou Caio Possati)
Estadão
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