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26 novembro 2023

MEDO E INSEGURANÇA MOTIVAM POTIGUARES A BRINDAREM VEÍCULOS

POR ISMAEL JEFFERSON


 Ícaro Carvalho
Repórter

Uma filha sendo vítima de um sequestro relâmpago e outra tendo o carro baleado numa tentativa de assalto. Duas situações pessoais deixaram uma empresária potiguar, de 53 anos, assustada com o avanço da criminalidade e temendo pela sua segurança em Natal. As vivências das filhas motivaram a empresária a botar a mão no bolso e investir alto para blindar seu carro e ampliar sua segurança pessoal. A blindagem veicular tem aumentado no Rio Grande do Norte, com mais que o dobro de operações sendo feitas em 2023 em comparação a 2022, segundo informações de interlocutores do setor e da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin).

Apesar do aumento e da demanda existente no Estado, o mercado é tímido e apenas uma empresa faz o serviço no RN, com grupos do Ceará e Pernambuco absorvendo parte do mercado consumidor.


A Exotic Blindagem, localizada em Natal desde 2018, é a única no Estado a promover o serviço. As blindagens têm custos de R$ 70 a R$ 170 mil, a depender do material e modelo do veículo, e têm prazos de cerca de 15 dias para entrega. Por mês, a média é de 8 a 10 blindagens. Em 2023, foram cerca de 70 serviços, contra cerca de 30 em todo o ano de 2022. Os donos da empresa, Henzo Costa e Betinho Costa, apontam que a insegurança, intensificação de crimes entre facções criminosas nas ruas e roubos de veículos motivam a procura pelas blindagens.


“Desde o que aconteceu no início desse ano [ataques de facções criminosas nas ruas] que se elevou a procura, com um incremento de cerca de 150%. Imagino que tem crescido por conta da criminalidade, da insegurança vivida no nosso Estado. A blindagem dura para sempre, tendo garantia de fábrica de determinado período”, aponta Henzo Costa.


Mesmo pensamento tem o gerente comercial regional da Locker Blindagens, empresa cearense com atuação no mercado potiguar. Segundo Miguel Arcanjo, entre 8 a 10 carros oriundos do Rio Grande do Norte são blindados por mês no Ceará atualmente.


“O mercado de blindagem do RN hoje, no Nordeste, só perde para o Ceará. É a segunda praça que mais consome veículos blindados”, avalia, acrescentando ainda que a instabilidade da segurança pública e a atuação das facções criminosas são fatores que motivam a procura. Por ser um forte mercado consumidor, a empresa avalia abrir filial no RN em 2024.


Ainda segundo Betinho Costa, o fato de ser um mercado difícil, com mão de obra específica e qualificada e ser uma atividade explorada recente no Estado explicam o fato de poucas empresas atuarem no RN com blindagem. A empresa dele, por exemplo, tem parceria com a Carbon, uma das maiores marcas do Brasil no tocante a blindagem. Os carros potiguares, inclusive, são levados a São Paulo para o serviço.

“Fortaleza tem um mercado de blindagem bem maior que Natal. Existe um histórico lá de tempo de trabalho, de parcerias. Nós fazemos a blindagem também, mas desde a parceria com a Carbon é mais viável enviar para São Paulo, pois tem as garantias. Mas se o cliente quiser, podemos fazer em Natal mesmo”, acrescenta Betinho Costa.


“Em Natal, vendi os primeiros blindados no final dos anos 90. Só que em Natal não tinha essa violência de assalto a carro, porque o trânsito incentiva isso, mas na capital potiguar o trânsito é “parado”, como tem no Rio ou em São Paulo. Então por isso que Natal talvez não tenha um volume tão substancial. Só que ano passado e recentemente tivemos situações envolvendo o crime organizado e as pessoas começam a pensar em se proteger. Uma empresa que investe nisso, tem custos altos”, analisa o presidente da Abrablin, Marcelo Silva, analisando ainda que o volume de blindagens em Natal não compensa para os empresários.

Após assaltos, família blindou veículo

Após experiências traumáticas envolvendo assaltos à mão armada e abordagens, potiguares têm recorrido à blindagem veicular como forma de se resguardar das ações criminosas de bandidos. Um desses casos foi de um empresário de 41 anos do Seridó do RN, que pediu para não ser identificado.


O potiguar mandou blindar seu veículo, um Compass. O custo para blindagem foi de cerca de R$ 76 mil, gasto que o potiguar não se arrepende de ter investido. Há alguns anos, chegou a ser abordado e assaltado por bandidos.


“Fiz a blindagem pensando na minha segurança, porque viajo muito. Já havia sido assaltado duas vezes e por ser do comércio, acabamos sendo visados. Numa delas eu estava guardando o carro na garagem, se ele fosse blindado teria entrado no carro para me salvar. Valor nenhum paga a vida da gente, por isso resolvi blindar meu carro”, disse.


Outra empresária potiguar, de 53 anos, resolveu blindar seu veículo, um Volvo xC60. Ela conta que se sentia insegura na cidade e em viagens para o Aeroporto Internacional Aluízio Alves. Os custos foram de cerca de R$ 85 mil.


“Já tive filha que foi sequestrada, numa ação relâmpago. O bandido ficou com ela no carro para fazer pix e pagamentos no cartão. E outra filha minha foi alvejada porque ela não parou. Isso me motivou a blindar meu carro. Foi um pouco caro, não blindei antes por conta justamente disso. Valeu muito a pena, me sinto realmente segura e blindada para buscar filhos, ir à aeroporto, paro em sinal tranquilamente. Sempre pagava às multas”, recorda.


Em Natal, os carros mais procurados para blindagem são Compass, Corolla, Toyota Cross, Renegade, Amarok, Hilux, entre outros, todos modelos que custam a partir dos R$ 150 mil se comprados 0km. Por ter alto custo, a blindagem veicular acaba sendo um produto voltado às classes sociais mais abastadas financeiramente.


O perfil de usuários de blindagem veicular são de empresários, médicos, juízes e pessoas responsáveis pelo transporte de altos valores. “Antes era só a classe AA, mas agora estamos atendendo clientes da B, C Alta. As pessoas estão preferindo comprar um carro mais barato e blindar, por exemplo”, acrescenta Betinho Costa.

Blindagem
A blindagem de um veículo no Brasil é regulamentada e fiscalizada pelo Exército Brasileiro por meio da Portaria nº 94/2019, editada pelo Comando Logístico. Para que o serviço seja feito, é necessário o preenchimento de uma série de requisitos e formulários, bem como a autorização do Exército. Aliado a isso, é necessário ter todas as certidões negativas e não ter antecedentes criminais.


A blindagem é uma camada de proteção colocada na parte externa do carro, sendo que na realidade a camada de proteção fica dentro do carro. Para que um carro seja blindado, é preciso desmontá-lo praticamente por completo.

Mercado segue em alta no Brasil, diz Associação

Nos primeiros meses do ano, mais de 13 mil veículos receberam a proteção diante do medo da violência urbana, segundo dados da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). De janeiro a junho deste ano, foram blindados 13.936 veículos, número quase 20% maior do que o mesmo período de 2022 (11.710 blindagens automotivas).


Segundo números do Exército Brasileiro, órgão responsável pela regularização do segmento, os maiores registros de blindagens automotivas no período foram em São Paulo (11.810 veículos blindados), seguido pelos estados do Rio de Janeiro (834), Ceará (521), Pernambuco (313) e Rio Grande do Sul (220).


“Diariamente, os veículos de imprensa noticiam as ações cada vez mais violentas e ousadas dos criminosos. Em São Paulo, por exemplo, temos observado o crescimento espantoso dos roubos de celulares, quando os bandidos quebram o vidro do carro para cometerem o delito. Esse cenário de fato cria um ambiente de completo medo e quem tem recursos vem buscando na blindagem a proteção”, destaca Marcelo Silva, presidente da Abrablin.


De acordo com a associação, o segmento vem batendo recorde ano após ano. Em 2021, chegou a ultrapassar 20 mil blindagens no período. Em 2022, bateu um novo recorde com a blindagem de 25.916 veículos. “Para 2023, caso o número de pedidos se mantenha aquecido como foi neste primeiro semestre, devemos observar um novo ápice de blindados no país”, diz Silva. A Abrablin estima que a frota blindada no Brasil esteja em cerca de 325 mil carros. A proteção mais praticada é a de nível III-A, que garante proteção contra todos os tipos de armas curtas (pistolas e revolveres).


Entre 2019 e 2022, as marcas que mais tiveram carros blindados foram Toyota, Jeep, Volkswagen, BMW e Volvo, sendo atualmente os modelos SUVs os que mais estacionam nos pátios das blindadoras para receberem a proteção.




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