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10 dezembro 2023

OFICINAS DE COSTURA DO RN BUSCAM INCENTIVO PARA AMPLIAR NEGÓCIOS COM MARCA PRÓPRIAS

POR ISMAEL JEFFERSON


A costureira Marionete Medeiros iniciou sua vida profissional atendendo da forma tradicional suas clientes no ateliê que criou em São José do Seridó, a 245 km de Natal, até que viu no Programa Pró-Sertão, que interioriza a Indústria Têxtil através das oficinas de costura, a oportunidade de crescer. Quinze anos depois, ela cresceu o negócio e dirige duas empresas de costura que empregam 60 pessoas. Mas Marionete pode ir além e produzir sua marca própria e vender diretamente ao consumidor final. Para tanto, precisa do estímulo governamental de modo a eliminar a diferença do ICMS na compra de matéria-prima de outros estados.


A expectativa é de que, se isso ocorrer, haja um crescimento de 15% a 20% no setor. Esse movimento das oficinas de costura também pode ser chamado de emancipação do negócio, muito embora não haja planos de deixarem o Pró-Sertão, pelo qual elas produzem para grandes empresas do ramo de vestuário, como a Guararapes e a Cia Hering.


Marionete é a atual presidente da Associação Seridoense de Confecções (ASCONF) e, por enquanto não produz marca própria, como outros empreendedores começaram a fazer. Ainda há o obstáculo que faz com que os produtos das oficinas de costura potiguares percam competitividade. “A gente vem buscando apoio do Governo do Estado porque esse novo modelo, que vejo como caminho natural, vai desde a compra do tecido dos insumos até o cliente final. Para isso, temos uma diferença de ICMS na entrada da mercadorias, dos insumos, de outros estados”, explica.

Na visão dos empresários do segmento, ampliar o modelo de negócio é um novo nicho que vai fazer as empresas crescerem. “No momento, todas as nossas expectativas estão nesse incentivo para fomentar as empresas que estão desenvolvendo esse trabalho. Eu não tenho marca própria, mas dependendo do que a gente conseguir, é um projeto meu começar com um produto próprio”, diz Marionete.


Seus planos são semelhantes aos de outros donos de oficinas têxteis. Eles se baseiam no que aconteceu com os produtores de bonés do Seridó, que começaram produzindo para campanhas eleitorais e para empresas e atualmente criaram suas marcas próprias e também atendem o cliente final.


O vice-presidente da ASCONF, Luiz Lupércio Junior, do município de Bodó, diz que a diferença de alíquota na entrada da mercadoria chega a 13%, ou seja, os insumos que eles compram para produzir os produtos ficam 13% mais caros. “Essa diferença nos torna menos competitivos que outros estados que têm uma alíquota de 7% a 10%. Sem essa diferença a gente pode ter um produto com preço mais competitivo para ampliar a oferta em todo o país”, explica.


Ele diz que a estimativa é de que, no momento em que for possível ter o benefício, o setor apresente um crescimento anual de até 18%. “A empresa passa a contratar mais porque precisará de setor comercial, de corte, publicidade, de embalagem… promovendo uma ampliação estruturada e departamentizada. Vamos estar gerando mais postos de trabalho”, estima o empresário.


As perspectivas se explicam porque o setor também está de olho no e-commerce, vendo nesse modelo de vendas uma oportunidade de ampliar mercado. “Passamos a compreender que o e-commerce é um processo de evolução e amadurecimento dos negócios. Temos que prezar por essa transformação observando os outros estados que passaram por isso, buscando o consumidor final do modo certo, com o produto e preço certo”, diz Lupércio.


Segundo a ASCONF, atualmente há 110 oficinas de costura em mais de 30 municípios potiguares. A maior parte instalada no Seridó. Juntas elas geram cerca de 4 mil empregos diretos.

Benefício fiscal facilita ascensão, diz Sebrae

Parceiro do Governo do Estado no Programa de Interiorização da Indústria Têxtil (Pró-Sertão), o Sebrae/RN, tem acompanhado o movimento da oficinas de costura rumo à ampliação dos negócios.


O diretor técnico da instituição, João Hélio Cavalcanti, diz que o pleito é justo uma vez que a operação desses empreendedores se dá junto a poucas empresas que compram seus produtos. “Na falta de um grande cliente, terão como sobreviver atendendo milhares de clientes, crescer e até gerar marca forte e competitiva. O benefício fiscal facilita a ascensão no mercado, seja na aquisição de novos equipamentos e materiais, ou na comercialização”, enfatizou.


As oficinas iniciaram no Pró-Sertão o modelo de produção para grandes marcas em 2013, contribuindo para a geração de emprego e renda em municípios localizados em regiões de baixo desenvolvimento econômico.


João Hélio destaca que o principal ganho na ampliação do negócio, enquanto fortalecimento da economia potiguar, é a geração de emprego e renda. “Com certeza terão que atender maiores volumes de produção e isso requer mão-de-obra ampliada para atender a demanda. Ter marca própria, com benefício tributário e apoio dos governos, vai ajudar na arrecadação de receita para o estado, um vez que o incremento da massa salarial movimenta a economia”, aponta o diretor do Sebrae/RN.


O governo do Estado diz que avalia a proposta da suspensão da alíquota de operação interestadual. Por ora, a governadora Fátima Bezerra, assegurou que o regime especial já existente de 2% relativo às empresas do setor de vestuário para a venda dos produtos poderá ser aplicado também nas oficinas de costura. O pleito inicial de 1% exige avaliação técnica e, de acordo com o Secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico do Estado, Jaime Calado, será trabalhado pela Sefaz/RN por que exige aprovação do Conselho Nacional de Secretários da Fazenda (Confaz).

“A governadora tem interesse em atender esse pleito, mas é algo atrelado ao Confaz. Se o Estado der um incentivo desse, isolado, pode ser derrubado. Por isso o Governo está consultando o Confaz e, se não houver impedimento, é provavel que seja concedido”, declarou o secretário.

Fiern endossa pleito das facções têxteis do RN

A Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) endossou o pleito das oficinas de costura junto ao Governo do Estado, considerando que o projeto Pró-Sertão, do qual também é apoiadora, é uma das mais importantes iniciativas para o desenvolvimento da economia potiguar.


O presidente da Fiern, Roberto Serquiz, relembra que cidades inteiras dependem dessa atividade, que é compatível com o semiárido, sendo uma vocação da região e, com o amadurecimento da atividade, essas oficinas começam a construir novos modelos. “Mesmo dentro da modalidade de prestação de serviço, existe a possibilidade de que a própria oficina de costura adquira o tecido e os aviamentos. Para que isso ocorra, ela precisa de um regime especial de tributação para que seja competitiva em relação aos outros Estados, porque a compra dos insumos tem um peso muito grande na composição final do preço”, destaca.


Quanto a esse novo modelo de prestação de serviço, Serquiz comenta que agrega valor e melhora a rentabilidade das empresas no interior. “Agora algumas oficinas também trabalham a possibilidade de marcas próprias para entrarem no mercado. Essas oficinas precisam de todo o apoio, porque é um mercado muito competitivo, sobretudo no Nordeste. Independentemente de ser para a entrega da prestação de serviço, o produto pronto, comprando tecidos e aviamentos; ou para a produção de marca própria, as oficinas precisam muito do incentivo do governo, através dos programas diversos que estão disponíveis e de novos regimes especiais de tributação”, pontua.


Ele considera que a produção e negociação de marcas próprias pelas oficinas de costura ainda está em fase inicial, mas de forte apelo em função da diminuição da demanda ocasionada pelo e-commerce. Para ele, é importante que os empreendedores busquem alternativas para se fortalecer mais e manter seu quadro de funcionários nos momentos em que a demanda com a grande indústria diminui, e há urgência em se garantir a competitividade e a sustentabilidade dessas Oficinas. Neste sentido, diz que a Fiern oferece apoio técnico, através do Senai, atuando na parte de estilo, criação de coleção e modelagem, para que possam trabalhar a marca própria.

TRIBUNA DO NORTE



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