A suspensão do julgamento das contas da governadora Fátima Bezerra, realizada pelo conselheiro George Soares, expõe de forma clara as fragilidades do sistema de fiscalização no Rio Grande do Norte. A decisão interrompeu um processo que, até então, apresentava sinais consistentes de caminhar para a reprovação.
O episódio levanta questionamentos inevitáveis sobre a imparcialidade no exercício da função fiscalizadora, especialmente quando exercida por alguém com vínculos políticos recentes com a própria gestão que deveria ser analisada com rigor técnico e distanciamento ético. O simples fato de um ex-líder do governo assumir a relatoria de contas da mesma administração já seria suficiente para comprometer a credibilidade do julgamento. A suspensão, nesse contexto, aprofunda ainda mais a percepção de interferência política dentro de um órgão que deveria atuar com independência absoluta.
Ao invés de reafirmar o compromisso com a transparência e a responsabilidade pública, o ato acaba reforçando a desconfiança popular de que o jogo político continua a se sobrepor às normas de fiscalização. Quando os espaços institucionais de controle passam a ser ocupados por figuras com histórico de alinhamento ao poder Executivo, o risco de parcialidade se torna mais do que uma hipótese — torna-se uma realidade concreta que mina a confiança pública.
Esse episódio representa mais do que uma simples decisão administrativa. Ele simboliza o enfraquecimento da função fiscalizadora do Estado, justamente em um momento em que a população mais espera seriedade, isenção e firmeza no combate aos abusos e na garantia da boa aplicação dos recursos públicos.
Se o Tribunal de Contas não for capaz de se blindar das pressões políticas e preservar sua autonomia, corre o risco de se tornar apenas mais um braço do poder, incapaz de cumprir com a missão de proteger os interesses da sociedade. E quando isso acontece, o maior prejudicado é sempre o povo.
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